Assim que entrei na Ericsson, vi-me
mergulhado numa atmosfera onde se “respirava” inovação. Após esse impacto
inicial, causado seja pela parede onde estava refletida a frase “Shaping the
Networked Society”, seja por um cartão onde dizia “ We know that the greatest
changes are yet to come. We will not only be part of these transformative
movements, we will lead them” ou simplesmente pela própria cultura que se vivia
na empresa, dei por mim estupefacto pela simpatia de todos os que iam passando
por mim. Mais um mito associado a grandes empresas que está completamente
desfasado da realidade: neste tipo de corporações, também há pessoas afáveis e
educadas para todos, seja para o CEO da entidade ou para um simples jovem,
ávido de conhecer o mundo empresarial.
Tive a oportunidade incrível de
dialogar com o Business Controller Iberia, Carlos Oliveira, um profissional
excelente que se mostrou sempre disponível em ajudar-me e em esclarecer todas as
questões que eu tive ao longo da minha visita. Um forte obrigado ao Carlos pela
forma como me recebeu!
Começámos por abordar a posição que o
Carlos tinha na empresa e as funções que lhe estavam subjacentes. Soube então
que um Business Controller está responsável pela área de gestão financeira
sendo que, de firma para firma, algumas das funções variam. Na Ericsson, o
Carlos acaba por ser o diretor financeiro das áreas de negócios, que estão
divididas por geografias e estas por clientes. Basicamente, pode-se dizer que é
um CFO (Chief Financial Officer) de alguns clientes de Portugal e de Espanha
(daí o Iberia).
Carlos Oliveira licenciou-se em
Organização e Gestão de Empresas (curso que atualmente é denominado de Gestão),
com especialização em Finanças, no ISCTE-IUL. Iniciou a sua carreira na KPMG,
uma vez que queria experimentar o mundo da auditoria. Permaneceu nesta entidade
5 anos e, ao fim desta meia decáda pensou que, se continuasse, iria ter que se
focar intensamente nesta área. Assim preferiu olhar para este primeiro emprego
como um excelente local de aprendizagem e, terminada a mesma, rumou à Motorola,
que na altura procurava um diretor financeiro. Permaneceu na multinacional
americana 2 anos e meio, sensivelmente, e ao fim desse período temporal foi
recrutado por uma empresa de Executive Search e ingressou na Ericsson.
Na empresa sueca, Carlos Oliveira tem
tido um percurso marcado pela ascensão progressiva! O Carlos revelou-me que não
há nenhum segredo em particular para ter chegado a esta posição. Destacou,
porém, as capacidades técnicas de que é dono, a forma como se integrou na
empresa e como se relaciona com os stakeholders. Para além disso, não deixou de
realçar a maneira como procura perspetivar e resolver os problemas com os quais
se depara, bem como a importância do Networking e a disponibilidade que sempre
demonstrou para trabalhar.
De seguida, dialogámos acerca da
Ericsson e do mercado em que está inserida. Sendo a Ericsson uma empresa de
origem sueca, naturalmente, aplica muitas diretrizes do trabalho nórdico.
Apesar de a filosofia de trabalho ter vindo a evoluir muito ao longo dos 140
anos de existência desta enorme instituição, o respeito pelas pessoas, a
estrutura muito “flat” em termos de hierarquias (procurando alcançar-se uma
comunicação o mais horizontal possível) e a responsabilidade que é dada a cada
colaborador são marcas bem vincadas desta corporação. Exemplificando, se a Sra.
da Receção quiser ir falar com o Presidente, vai e bate à porta: é tão simples
quanto isso. Em termos do ambiente que é vivido nas horas de expediente, na
Ericsson trabalha-se em open space, promovendo-se uma cultura de porta aberta,
onde se dá valor a pessoas capazes de comunicar.
O facto de ter “nascido” há quase
século e meio e continuar a obter tantos sucessos só revela a capacidade desta
companhia se adaptar às exigências impostas pelo mercado. Atualmente, os
clientes da Ericsson não são mass-market, são clientes empresariais, sendo que
o portfólio de serviços/produtos da entidade sueca tem vindo a reestruturar-se
com o passar dos anos.
A Ericsson é a líder global em
telecomunicações, ocupando ainda o 5º posto ao nível de fornecimento de
software. Tem clientes em 180 países, emprega mais de 110 000 pessoas no mundo
inteiro e possui mais de 2 biliões de utilizadores das suas redes. Em Portugal,
foi eleita em 2014 e em 2015 como a melhor empresa para trabalhar, segundo a
revista Exame. Segundo o Carlos, só se chega ao topo e a esta excelência com
muito investimento em R&D (Research and Development) e mantendo sempre uma
proximidade muito estreita com os clientes. O Carlos referiu ainda os 3 valores
essenciais nesta empresa: o profissionalismo, a perseverança e o respeito.
Os fatores críticos de sucesso neste
mercado são, indubitavelmente, a inovação e a proximidade com os clientes (que
resulta em saber ouvir e perceber as necessidades dos mesmos, trazer esse input
para dentro da corporação e posteriormente responder a estas mesmas
necessidades). Afinal, um dos “mantras” neste mercado é “O cliente tem sempre
razão” e, diz o Carlos, “Mais do que conseguir vender aos clientes, estes
compram e temos que lhes oferecer o que realmente eles procuram adquirir”.
Estando, tal como foi supracitado, no mercado das empresas, a Ericsson trabalha
com planos de investimento geralmente alargados (rondam os 3 ou 4 anos).
Utilizando uma interessantíssima
analogia, o Carlos diz que na Ericsson existe um Road Map dos produtos, isto é,
estão a entregar um produto agora mas, daqui a 6 meses o próprio produto evolui
nesta direção, daqui a 1 ano naquela e por aí adiante, mediante o feedback
recebido. Assim, o R&D é permanentemente influenciado pelos inputs dos
clientes, procurando ouvir o mercado e fazer pequenas correções, sem nunca
executar mudanças dramáticas.
A Ericsson dispõe de múltiplas ofertas
para as mais diversificadas indústrias: cidades sustentáveis inteligentes,
transportes, segurança pública, utilities, imobiliária, entre outras. Abarcando
uma tão vasta gama de indústrias, o Carlos refere como ponto comum o facto da
Ericsson trazer as suas competências nas tecnologias de informação e
comunicação móveis para todos os projetos, para além de possuir infraestruturas
e um conhecimento nestas áreas notável. Muitos destes casos são soluções feitas
à medida. Apesar de em alguns mercados (como o dos serviços e instalações
tecnológicas) haver uma miríade de empresas a competir, os “fatores X” da
Ericsson são a sua experiência, o seu know-how e a sua presença global.
Ainda acerca do mercado, 5G e Cloud
são as tecnologias que no futuro irão criar buzz no mundo digital, uma vez que
permitirão conceber a visão da IoT (Internet of Things), possibilitando cada
vez mais tornar real um mundo totalmente conectado (a dita Networked Society).
Para quem não domina estes termos, a IoT irá permitir a comunicação entre as
máquinas, facilitando a interação dos objetos do mundo real com o mundo virtual
através de sensores. Dando um exemplo, o frigorífico do leitor poderá estar
ligado ao telemóvel e avisa-o quando o leite estiver prestes a acabar.
Perspetiva-se que, no futuro, a IoT dê um “boom” com proporções nada menos que
gigantescas. 5G é a quinta geração da Internet Móvel, que irá propiciar a IoT,
uma vez que e utilizando um chavão próprio deste meio “Tudo aquilo que possa
beneficiar de ser conectado vai ser conectado”. O 5G reduz a latência, que
basicamente é o tempo que o dispositivo demora a executar algo. Por último, o
conceito de Cloud viabiliza a centralização de infraestruturas a nível dos
clientes.
A evolução tecnológica tem sido
incrível! Há duas décadas atrás, havia 1 bilião de sítios (físicos) conectados,
porém, era através de fios (subterrâneos, submarinos e aéreos) e não usando
comunicações móveis. Há 10 anos atrás havia 5 biliões de pessoas conectadas. No
futuro, haverão 50 biliões de “things” conectadas. É fenomenal!
Nesta corporação, existe um foco muito
grande na Responsabilidade Social. Não existe um programa definido mas possuem uma
área que por iniciativa própria (ou por solicitação de associações) procura
envolver os colaboradores e respetivas famílias neste tipo de atividades. Desde
limpeza de praias a recolha de alimentos e/ou roupas e recolha de prendas para
os sem-abrigo, passando por campanhas que visam colectar materiais para a escola,
na Ericsson procura-se alcançar um impacto positivo no mundo. Este tipo de
projetos traz duas vantagens: primeiro, o mercado sente cada vez mais o apelo
para realizar empreendimentos desta natureza; segundo e o mais importante é que
o nível de ligação dos colaboradores com a entidade (a nível de “engagement”,
de compromisso com a firma empregadora) cresce com este tipo de atitudes, uma
vez que é recompensador sentir que a companhia procura conciliar o lucro com o
bem estar dos indivíduos.
Na Ericsson é preconizada a ideia de
que a inclusão e a diversidade cultural da empresa são extremamente benéficas
para a própria, sendo fatores essenciais no sucesso da firma. O Carlos não
podia estar mais de acordo, referindo que o facto de incorporarem na cultura
nórdica formas de pensar latinas, chinesas, africanas (entre outras), para além
da heterogeneidade de géneros (masculino e feminino) acabam por ser mais-valias
em qualquer organização, sendo uma alavanca relevante para a evolução
constante.
Relativamente a oportunidades para a
população juvenil, a Ericsson sempre teve um programa de traineership (em que
os participantes são remunerados), uma vez que é algo que faz parte da própria
filosofia preconizada pela entidade. No entanto, este tipo de iniciativas está
ligado aos ciclos de negócios, isto é, se a empresa estiver numa fase marcada
pela expansão, irá haver mais budget (e é mais fácil, nestes casos, existirem
mais programas desta cariz). Normalmente ocorrem em parceria com universidades
chave, tais como o IST (Instituto Superior Técnico), a FCT NOVA (Faculdade de
Ciências e Tecnologia da Universidade Nova de Lisboa) e ainda com algumas
faculdades da zona de Aveiro. A questão é que neste momento esta companhia
encontra-se numa fase de menor crescimento e, portanto, este tipo de
iniciativas não existem. Importa ainda referir que 90% dos novos trabalhadores
desta enorme empresa vêm de campos como Engenharias, Telecomunicações e
Informática.
Falámos ainda acerca do “modus
operandi” da empresa nórdica no que concerne à formação dos seus colaboradores:
neste momento, existe um site de formações para os colaboradores da Ericsson
(com centenas senão mesmo milhares de cursos). Este site, para além dos cursos
propriamente ditos, integra os documentos de acolhimento da instituição, que
auxiliam imenso os indivíduos que recentemente se juntaram à firma. Para além
disto, existe, naturalmente, o “on the job training”, sempre com o suporte quer
dos colegas quer da própria entidade empregadora. Ao longo da carreira, esse
conceito de formação permanece e acompanha a evolução dos trabalhadores.
Exemplificando, a Ericsson estimula e auxilia financeiramente os colaboradores
que queiram prosseguir os estudos em Mestrados, Pós-Graduações ou MBA´s (Masters
of Business Administration).
Por último, questionei ainda o Carlos
acerca do maior desafio profissional que a sua vida já lhe tinha colocado e
como é que o tinha conseguido ultrapassar. Contou-me que há cerca de uma dúzia
de anos atrás, teve 2 filhas, num espaço temporal de 18 meses. Nesta mesma
altura, começou a ter responsabilidades ao nível ibérico, o que implicava
muitas viagens a Espanha, passando diversas vezes semanas inteiras em Madrid.
Confessou-me que não foi fácil estar longe, deixando 2 bebés em casa. No
entanto e, felizmente, mais tarde abriu-se uma vaga dentro da Ericsson Portugal
que, em termos logísticos, era compatível. O Carlos deixou aqui um conselho
para todos os leitores: é sempre muito importante, antes de tomar decisões
deste género, fazer o trade off entre a vida pessoal e as perspetivas de
carreira.
Finalizando, queria agradecer mais uma
vez ao Carlos, não só pela simpatia que teve para comigo mas acima de tudo pela
oportunidade brilhante que me concedeu! É absolutamente sensacional visitar uma
empresa que chega a mais de 2 biliões de pessoas, espalhadas pelo globo
inteiro. Afinal, no fim do dia, arrisco-me a dizer que todos nós, de certa
forma, já sentimos a influência da Ericsson nas nossas vidas. É
indubitavelmente uma instituição ímpar e foi para mim um enorme prazer
conhecê-la!
Até uma próxima leitura meus caros!
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