quinta-feira, 4 de agosto de 2016

Ericsson – A world of communication

Assim que entrei na Ericsson, vi-me mergulhado numa atmosfera onde se “respirava” inovação. Após esse impacto inicial, causado seja pela parede onde estava refletida a frase “Shaping the Networked Society”, seja por um cartão onde dizia “ We know that the greatest changes are yet to come. We will not only be part of these transformative movements, we will lead them” ou simplesmente pela própria cultura que se vivia na empresa, dei por mim estupefacto pela simpatia de todos os que iam passando por mim. Mais um mito associado a grandes empresas que está completamente desfasado da realidade: neste tipo de corporações, também há pessoas afáveis e educadas para todos, seja para o CEO da entidade ou para um simples jovem, ávido de conhecer o mundo empresarial.

Tive a oportunidade incrível de dialogar com o Business Controller Iberia, Carlos Oliveira, um profissional excelente que se mostrou sempre disponível em ajudar-me e em esclarecer todas as questões que eu tive ao longo da minha visita. Um forte obrigado ao Carlos pela forma como me recebeu!

Começámos por abordar a posição que o Carlos tinha na empresa e as funções que lhe estavam subjacentes. Soube então que um Business Controller está responsável pela área de gestão financeira sendo que, de firma para firma, algumas das funções variam. Na Ericsson, o Carlos acaba por ser o diretor financeiro das áreas de negócios, que estão divididas por geografias e estas por clientes. Basicamente, pode-se dizer que é um CFO (Chief Financial Officer) de alguns clientes de Portugal e de Espanha (daí o Iberia).

Carlos Oliveira licenciou-se em Organização e Gestão de Empresas (curso que atualmente é denominado de Gestão), com especialização em Finanças, no ISCTE-IUL. Iniciou a sua carreira na KPMG, uma vez que queria experimentar o mundo da auditoria. Permaneceu nesta entidade 5 anos e, ao fim desta meia decáda pensou que, se continuasse, iria ter que se focar intensamente nesta área. Assim preferiu olhar para este primeiro emprego como um excelente local de aprendizagem e, terminada a mesma, rumou à Motorola, que na altura procurava um diretor financeiro. Permaneceu na multinacional americana 2 anos e meio, sensivelmente, e ao fim desse período temporal foi recrutado por uma empresa de Executive Search e ingressou na Ericsson.

Na empresa sueca, Carlos Oliveira tem tido um percurso marcado pela ascensão progressiva! O Carlos revelou-me que não há nenhum segredo em particular para ter chegado a esta posição. Destacou, porém, as capacidades técnicas de que é dono, a forma como se integrou na empresa e como se relaciona com os stakeholders. Para além disso, não deixou de realçar a maneira como procura perspetivar e resolver os problemas com os quais se depara, bem como a importância do Networking e a disponibilidade que sempre demonstrou para trabalhar.

De seguida, dialogámos acerca da Ericsson e do mercado em que está inserida. Sendo a Ericsson uma empresa de origem sueca, naturalmente, aplica muitas diretrizes do trabalho nórdico. Apesar de a filosofia de trabalho ter vindo a evoluir muito ao longo dos 140 anos de existência desta enorme instituição, o respeito pelas pessoas, a estrutura muito “flat” em termos de hierarquias (procurando alcançar-se uma comunicação o mais horizontal possível) e a responsabilidade que é dada a cada colaborador são marcas bem vincadas desta corporação. Exemplificando, se a Sra. da Receção quiser ir falar com o Presidente, vai e bate à porta: é tão simples quanto isso. Em termos do ambiente que é vivido nas horas de expediente, na Ericsson trabalha-se em open space, promovendo-se uma cultura de porta aberta, onde se dá valor a pessoas capazes de comunicar.

O facto de ter “nascido” há quase século e meio e continuar a obter tantos sucessos só revela a capacidade desta companhia se adaptar às exigências impostas pelo mercado. Atualmente, os clientes da Ericsson não são mass-market, são clientes empresariais, sendo que o portfólio de serviços/produtos da entidade sueca tem vindo a reestruturar-se com o passar dos anos.

A Ericsson é a líder global em telecomunicações, ocupando ainda o 5º posto ao nível de fornecimento de software. Tem clientes em 180 países, emprega mais de 110 000 pessoas no mundo inteiro e possui mais de 2 biliões de utilizadores das suas redes. Em Portugal, foi eleita em 2014 e em 2015 como a melhor empresa para trabalhar, segundo a revista Exame. Segundo o Carlos, só se chega ao topo e a esta excelência com muito investimento em R&D (Research and Development) e mantendo sempre uma proximidade muito estreita com os clientes. O Carlos referiu ainda os 3 valores essenciais nesta empresa: o profissionalismo, a perseverança e o respeito.

Os fatores críticos de sucesso neste mercado são, indubitavelmente, a inovação e a proximidade com os clientes (que resulta em saber ouvir e perceber as necessidades dos mesmos, trazer esse input para dentro da corporação e posteriormente responder a estas mesmas necessidades). Afinal, um dos “mantras” neste mercado é “O cliente tem sempre razão” e, diz o Carlos, “Mais do que conseguir vender aos clientes, estes compram e temos que lhes oferecer o que realmente eles procuram adquirir”. Estando, tal como foi supracitado, no mercado das empresas, a Ericsson trabalha com planos de investimento geralmente alargados (rondam os 3 ou 4 anos).

Utilizando uma interessantíssima analogia, o Carlos diz que na Ericsson existe um Road Map dos produtos, isto é, estão a entregar um produto agora mas, daqui a 6 meses o próprio produto evolui nesta direção, daqui a 1 ano naquela e por aí adiante, mediante o feedback recebido. Assim, o R&D é permanentemente influenciado pelos inputs dos clientes, procurando ouvir o mercado e fazer pequenas correções, sem nunca executar mudanças dramáticas.

A Ericsson dispõe de múltiplas ofertas para as mais diversificadas indústrias: cidades sustentáveis inteligentes, transportes, segurança pública, utilities, imobiliária, entre outras. Abarcando uma tão vasta gama de indústrias, o Carlos refere como ponto comum o facto da Ericsson trazer as suas competências nas tecnologias de informação e comunicação móveis para todos os projetos, para além de possuir infraestruturas e um conhecimento nestas áreas notável. Muitos destes casos são soluções feitas à medida. Apesar de em alguns mercados (como o dos serviços e instalações tecnológicas) haver uma miríade de empresas a competir, os “fatores X” da Ericsson são a sua experiência, o seu know-how e a sua presença global.

Ainda acerca do mercado, 5G e Cloud são as tecnologias que no futuro irão criar buzz no mundo digital, uma vez que permitirão conceber a visão da IoT (Internet of Things), possibilitando cada vez mais tornar real um mundo totalmente conectado (a dita Networked Society). Para quem não domina estes termos, a IoT irá permitir a comunicação entre as máquinas, facilitando a interação dos objetos do mundo real com o mundo virtual através de sensores. Dando um exemplo, o frigorífico do leitor poderá estar ligado ao telemóvel e avisa-o quando o leite estiver prestes a acabar. Perspetiva-se que, no futuro, a IoT dê um “boom” com proporções nada menos que gigantescas. 5G é a quinta geração da Internet Móvel, que irá propiciar a IoT, uma vez que e utilizando um chavão próprio deste meio “Tudo aquilo que possa beneficiar de ser conectado vai ser conectado”. O 5G reduz a latência, que basicamente é o tempo que o dispositivo demora a executar algo. Por último, o conceito de Cloud viabiliza a centralização de infraestruturas a nível dos clientes.

A evolução tecnológica tem sido incrível! Há duas décadas atrás, havia 1 bilião de sítios (físicos) conectados, porém, era através de fios (subterrâneos, submarinos e aéreos) e não usando comunicações móveis. Há 10 anos atrás havia 5 biliões de pessoas conectadas. No futuro, haverão 50 biliões de “things” conectadas. É fenomenal!

Nesta corporação, existe um foco muito grande na Responsabilidade Social. Não existe um programa definido mas possuem uma área que por iniciativa própria (ou por solicitação de associações) procura envolver os colaboradores e respetivas famílias neste tipo de atividades. Desde limpeza de praias a recolha de alimentos e/ou roupas e recolha de prendas para os sem-abrigo, passando por campanhas que visam colectar materiais para a escola, na Ericsson procura-se alcançar um impacto positivo no mundo. Este tipo de projetos traz duas vantagens: primeiro, o mercado sente cada vez mais o apelo para realizar empreendimentos desta natureza; segundo e o mais importante é que o nível de ligação dos colaboradores com a entidade (a nível de “engagement”, de compromisso com a firma empregadora) cresce com este tipo de atitudes, uma vez que é recompensador sentir que a companhia procura conciliar o lucro com o bem estar dos indivíduos.

Na Ericsson é preconizada a ideia de que a inclusão e a diversidade cultural da empresa são extremamente benéficas para a própria, sendo fatores essenciais no sucesso da firma. O Carlos não podia estar mais de acordo, referindo que o facto de incorporarem na cultura nórdica formas de pensar latinas, chinesas, africanas (entre outras), para além da heterogeneidade de géneros (masculino e feminino) acabam por ser mais-valias em qualquer organização, sendo uma alavanca relevante para a evolução constante.

Relativamente a oportunidades para a população juvenil, a Ericsson sempre teve um programa de traineership (em que os participantes são remunerados), uma vez que é algo que faz parte da própria filosofia preconizada pela entidade. No entanto, este tipo de iniciativas está ligado aos ciclos de negócios, isto é, se a empresa estiver numa fase marcada pela expansão, irá haver mais budget (e é mais fácil, nestes casos, existirem mais programas desta cariz). Normalmente ocorrem em parceria com universidades chave, tais como o IST (Instituto Superior Técnico), a FCT NOVA (Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade Nova de Lisboa) e ainda com algumas faculdades da zona de Aveiro. A questão é que neste momento esta companhia encontra-se numa fase de menor crescimento e, portanto, este tipo de iniciativas não existem. Importa ainda referir que 90% dos novos trabalhadores desta enorme empresa vêm de campos como Engenharias, Telecomunicações e Informática.

Falámos ainda acerca do “modus operandi” da empresa nórdica no que concerne à formação dos seus colaboradores: neste momento, existe um site de formações para os colaboradores da Ericsson (com centenas senão mesmo milhares de cursos). Este site, para além dos cursos propriamente ditos, integra os documentos de acolhimento da instituição, que auxiliam imenso os indivíduos que recentemente se juntaram à firma. Para além disto, existe, naturalmente, o “on the job training”, sempre com o suporte quer dos colegas quer da própria entidade empregadora. Ao longo da carreira, esse conceito de formação permanece e acompanha a evolução dos trabalhadores. Exemplificando, a Ericsson estimula e auxilia financeiramente os colaboradores que queiram prosseguir os estudos em Mestrados, Pós-Graduações ou MBA´s (Masters of Business Administration).

Por último, questionei ainda o Carlos acerca do maior desafio profissional que a sua vida já lhe tinha colocado e como é que o tinha conseguido ultrapassar. Contou-me que há cerca de uma dúzia de anos atrás, teve 2 filhas, num espaço temporal de 18 meses. Nesta mesma altura, começou a ter responsabilidades ao nível ibérico, o que implicava muitas viagens a Espanha, passando diversas vezes semanas inteiras em Madrid. Confessou-me que não foi fácil estar longe, deixando 2 bebés em casa. No entanto e, felizmente, mais tarde abriu-se uma vaga dentro da Ericsson Portugal que, em termos logísticos, era compatível. O Carlos deixou aqui um conselho para todos os leitores: é sempre muito importante, antes de tomar decisões deste género, fazer o trade off entre a vida pessoal e as perspetivas de carreira.

Finalizando, queria agradecer mais uma vez ao Carlos, não só pela simpatia que teve para comigo mas acima de tudo pela oportunidade brilhante que me concedeu! É absolutamente sensacional visitar uma empresa que chega a mais de 2 biliões de pessoas, espalhadas pelo globo inteiro. Afinal, no fim do dia, arrisco-me a dizer que todos nós, de certa forma, já sentimos a influência da Ericsson nas nossas vidas. É indubitavelmente uma instituição ímpar e foi para mim um enorme prazer conhecê-la!

Até uma próxima leitura meus caros!

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