Assim que cheguei à Odisseias, deparei-me com uma entrada muito
interessante. Na parede à minha direita, estava inscrita a já conhecida frase
do poeta Fernando Pessoa: “O Homem é do tamanho do seu sonho”. À minha esquerda,
visualizei uma imagem, na qual estava o slogan da corporação: “don´t worry, be
happy”. Estes pormenores, aliados à simpatia de quem me recebeu, foram logo
indícios da excelente visita que se avizinhava.
Tive a oportunidade fantástica de dialogar com Isabel Luna, Diretora Comercial
e de Marketing da Odisseias. A Isabel tem a seu
cargo várias áreas: retalho (onde trabalham com entidades como a Fnac ou o
Continente), corporate e online. A Isabel é responsável por toda esta gestão,
reunindo ainda com clientes e, dado que a entidade tem crescido imenso, também
tem que implementar as mudanças que são exigidas à organização, dinamizando as
diversas equipas de trabalho. A sua semana começa com reuniões com os
diretores, definindo atividades e objetivos, nas quais apresenta projetos e
ideias inovadoras que procura pôr em prática. O seu dia a dia é imprevisível,
até porque procura estar sempre ao dispor dos clientes, das equipas internas e
da administração.
Começámos por falar acerca da Odisseias, uma empresa criada há 11 anos
pelos amigos Rui Piçarra e Francisco Costa, e que tem tido um crescimento
absolutamente incrível (como explorarei mais adiante), vendendo diariamente
cerca de 1000 experiências. Atualmente, a Odisseias é uma sociedade gestora de
participações sociais (SGPS) e líder no mercado de experiências em Portugal.
A Odisseias tem o seu negócio estruturado em três canais de vendas:
E-Commerce, Retalho e Corporate. Nestes, a entidade apresenta experiências, integrados
nas plataformas de incentivos ou como presentes a clientes e colaboradores. As
próprias experiências podem ser individuais ou em packs. Em termos de
Corporate, a Odisseias aproveita o know-how elevado de que dispõe para saber o
que vai estar “na moda” e assim oferecer aos clientes empresariais. A título de
exemplo, a Odisseias apresenta inclusivamente uma solução em que cria um site
igual ao seu (poderão consultá-lo em http://corporate.odisseias.com/) mas com a imagem da empresa-cliente, sendo que os produtos, em vez de
aparecerem com valor monetário, aparecem com pontos. Assim, os funcionários
sentem-se incentivados a alcançar determinada pontuação de forma a usufruir de
determinado brinde/gratificação.
A Odisseias destaca-se das restantes firmas porque apresenta uma rede de
parceiros elevada e porque possui uma base de dados de clientes com muita
qualidade. Neste setor é sempre difícil definir
o que é um bom preço. No entanto, a Isabel é muito pragmática: “O bom preço é
aquele que o cliente está disposto a pagar.” Para além disso, nesta corporação,
apelam a que a qualidade demonstrada pelos parceiros aos clientes seja
proporcional à demonstrada pelos parceiros à Odisseias. Daí existir o
departamento do “Cliente Mistério”, que avalia os parceiros e daí haver
questionários feitos especificamente para este fim. Afinal, na Odisseias
acredita-se que a excelência dos produtos depende da excelência dos parceiros. Todos
estes fatores proporcionam uma taxa elevadíssima de retenção de clientela e de
satisfação (95%).
Relativamente a prémios alcançados, a Odisseias tem somado vários desde
2011 (melhor empresa para trabalhar ao longo de 3 anos consecutivos, teve o seu
pack experiência nomeado produto do ano, entre outras distinções). O segredo do sucesso, segundo a Isabel, é o trabalho
que é desenvolvido por cada um e o facto dos fundadores procurarem um
crescimento sustentado. “São pessoas muito éticas e isso possibilita uma
relação duradoura e de confiança com os parceiros, uma vez que não há nada
escondido. São mesmo muito transparentes!”
É indubitável afirmar que esta forma de estar nos negócios tem trazido
resultados. Quando a Isabel entrou na companhia, havia 5 pessoas. Hoje são 86 e
a previsão é atingir 16M de euros no final de 2016. Este crescimento
exponencial ocorreu sobretudo nos mercados do retalho, E-Commerce, nas
categorias de restauração, hotelaria e spa Aliás, no retalho possuem mais de
70% de quota de mercado e no online são também líderes. No entanto, assinala a
Isabel, é mais complicado ser líder, porque quando se é líder, a empresa tem
que “abrir o caminho” e desbravar horizontes.
De seguida, pedi à Isabel que me traçasse o perfil
tipo de um colaborador da Odisseias. A Isabel descreveu-me um indivíduo descontraído mas responsável, jovem, que apresente muita
disponibilidade para trabalhar e que valoriza o espírito de equipa, sempre
focado em fazer algo diferente e em crescer enquanto profissional.
Aliás e, uma vez que realcei o colaborador tipo desta instituição,
parece-me lógico explanar agora a valorização dada aos trabalhadores nesta
organização. Os fundadores, recentemente, proporcionaram a todos os colaboradores
da Odisseias uma incrível incursão. Viajaram até Marrocos (Marraquexe, para ser
mais específico) durante 2 semanas, numa aventura que contribuiu em muito para
o team building. De realçar dois aspetos: o primeiro é o facto dos cerca de 20
colaboradores terem ido todos a esta aventura (sem qualquer exceção, aliás,
chegaram mesmo a contratar pessoas temporariamente para ficarem nas lojas neste
espaço de 15 dias); o segundo é o caráter simbólico desta viagem, uma vez que
foi em Marrocos, em 2005, numa viagem dos 2 fundadores, que a ideia da
Odisseias surgiu! Para além desta viagem, há ainda outros aspetos na corporação
que mostra que esta valoriza os trabalhadores: prémios de desempenho (todos os
trimestres é eleita uma “equipa do trimestre”); ao longo do ano vão à praia,
vão jogar futebol, existe um Kick off anual, entre inúmeras outras atividades; e tencionam ainda implementar futuramente uma
plataforma de incentivos interna. Todos estes pormenores, relacionados com o
reconhecimento do mérito e com o espírito vivido na corporação, fazem a
diferença! Acima de tudo, fica na retina que, tanto para trabalharem como para
se divertirem, nesta firma são todos uma família.
É de destacar ainda a forma como a responsabilidade social é abordada nesta
corporação. Desde o início colaboraram com a Associação Laço e com a Fundação
do Gil, estando sempre muito preocupados com quem os rodeia. Para além disso e,
mesmo em eventos internos, já houve iniciativas que consistiam em fazer obras,
pintar, etc. Tudo isto ganha um novo significado se pensarmos que não existe
internamente uma função destacada para a responsabilidade social, ou seja, se
esta é posta em prática é porque todo o staff tem essa vontade!
Relativamente às diversas lojas, a Odisseias encontra-se em Oeiras e Lisboa.
Quando há picos de vendas, têm quiosques nos centros comerciais. As lojas
acabam por servir mais enquanto pick-up points e para atendimento aos clientes.
Outro dos aspetos que dá visibilidade à Odisseias é a rede de embaixadores que
possuem (constituída por famosos), em que estes usufruem de experiências Odisseias e posteriormente
partilham a sua nas redes sociais, contribuindo bastante para o engagement de
clientes.
Passando agora a analisar o percurso académico da Isabel, ela licenciou-se
no ISCEM, em Comunicação Empresarial. Nesta
faculdade, a partir do 2º ano era obrigatório fazer estágios e a Isabel não se
fez rogada, começando por uma aventura na Vista Alegre e experienciando, mais
tarde, a multinacional Portugal Telecom (PT). Quanto ao estágio na PT, teve
como primeira tarefa ler todo o clipping da firma, selecionando o que era
estritamente necessário, para depois digitalizar o que fosse relevante. Desta
tarefa, uma bonita história viria a surgir: ao ler o clipping, a Isabel reparou
em diversas notícias sobre responsabilidade social. Por outro lado, na
faculdade, tinha uma cadeira que estava relacionada com esta vertente. Assim,
conjugou estes dois aspetos e apresentou uma ideia ao responsável de estágio,
ideia essa que mais tarde se converteria num livro, onde a Isabel pôde,
orgulhosamente, deixar o seu nome!
Dentro da PT, teve a sorte de trabalhar com o diretor de comunicação, que
foi para a Isabel um mentor de valor incalculável! Confessou-me que aprendeu e
evoluiu imenso, o que corrobora a ideia vigente no mundo empresarial de que os
primeiros chefes são fulcrais para o nosso desenvolvimento. Foi contratada
ainda durante o curso e, dos 4 anos que esteve na multinacional portuguesa,
destaca o espírito de perfecionismo existente. Recorda ainda o último pedido
que teve que realizar: fazer uma festa num transatlântico que parasse no dia do
aniversário de uma das marcas do Grupo no porto de Lisboa. Um pedido deveras
invulgar e que lhe levou a esforços redobrados para que tudo corresse bem, mas
que ilustra perfeitamente a capacidade de fazer acontecer que é fulcral possuir
neste tipo de organizações.
Confidenciou-me que, na altura, não foi fácil conciliar a faculdade com o
emprego, mas com muito esforço e vontade tudo se tornou possível.
Ao fim dos 2 anos de estágio na PT e de outros 2 a trabalhar na mesma
instituição, rumou à PSO Comunicação Estratégica, onde foi durante 1 ano
Gestora de Projeto. No final desses 12 meses, ingressaria na Odisseias (em
agosto de 2008), onde atualmente labora.
No início, as diferenças foram grandes, uma vez que ainda trazia muitas
recordações da gigante PT. Quando entrou na Odisseias, deparou-se com uma
realidade totalmente diferente: uma corporação que empregava 5 pessoas e que
crescia bastante à base de estagiários (as atuais diretoras de logística e de
corporate, por exemplo, foram estagiárias). Para além disso, recorda com
nostalgia o facto de imprimirem os vouchers nas impressoras (algo impensável
nos dias que correm) e até de, por vezes, o papel da impressora acabar. “Na PT
nunca acabava o papel! Havia alguém que garantia sempre todos esses pequenos
pormenores!” disse a Isabel, no meio de uma risada contagiante.
Atualmente, o paradigma já mudou mas, no entanto, não deixam de continuar a
trabalhar com estagiários curriculares e estagiários profissionais (em áreas
como o turismo, gestão e comunicação e com faculdades com as quais os RH têm
parcerias). Nos estágios curriculares, a firma é bastante flexível em termos de
horários, sendo atividades onde é dada responsabilidade aos jovens em questão.
Para além disso, na área de logística, têm atualmente aberto um desafio que
poderá levar a uma possível tese, caso a oportunidade seja bem agarrada pelo(a)
jovem. Resta-me referir que a Odisseias procura, sobretudo, pessoas com algum
know-how nas áreas supracitadas.
Isabel Luna prosseguiu dizendo que considera a Odisseias como “o maior
mestrado que poderia ter tido na vida”. Demonstra orgulho por ter feito parte
de todo o crescimento supracitado e por ter tido um papel crucial no mesmo. “Fico muito feliz por vir todos os dias para a
Odisseias e por poder ver com os meus próprios olhos este crescimento a
acontecer. O sucesso da Odisseias acaba por ser o meu sucesso!”, disse a
Isabel, visivelmente radiante.
Com todo este percurso impressionante, indaguei-a acerca da “chave do seu
sucesso”. A Isabel realçou os seguintes fatores: sempre teve disponibilidade
para aprender com todos, desde as pessoas mais velhas aos estagiários; procurou
sempre transmitir as suas ideias e teve a sorte de haver pessoas dispostas a
ouvi-las; arriscou e nunca teve medo de errar ou de perguntar o que quer que
fosse; e teve um grande mentor. Destacou ainda o
facto de vir morar sozinha para um país diferente desde muito cedo (a Isabel é
de naturalidade espanhola), o que a fez ganhar valências preponderantes para a
sua vida profissional.
A Isabel apresenta uma filosofia de vida muito interessante: considera que
cada pessoa chega aonde quer, caso lute por isso, seja numa empresa como a PT
ou como a Odisseias. Dando o seu próprio exemplo, quando estava na PT, só tinha
que fazer o clipping, mas fez muito mais que isso, e acabou por ter muito
impacto (afinal, a pergunta não é quantos de nós gostaríamos de inscrever o
nosso nome num livro tal como a Isabel o fez mas sim quantos de nós realmente
fazemos algo para que isso aconteça?). A Isabel disse mesmo que nós temos o
impacto que quisermos causar e que não é dizer “A mim não me pediram para fazer
isso!”, mas sim ser empreendedores dentro da própria empresa, mostrando sempre
iniciativa e proatividade.
Isabel Luna considera ainda que, apesar de estudarmos uma área, não nos devemos
agarrar única e exclusivamente a essa área. Temos que começar o nosso percurso
no mercado, de forma a ir ganhando capacidades que só o “calo do trabalho” nos
oferece e, ao longo deste percurso, devemos procurar aplicá-las sempre que
possível (sem ser necessariamente na área de formação). Novamente recorrendo à
sua própria experiência, recorda que a tese final de curso foi sobre
Sustentabilidade Empresarial, apesar de se encontrar num curso de comunicação.
Por último, questionei-a acerca dos momentos mais complicados que teve de
ultrapassar na sua carreira. Isabel Luna destacou dois: quando saiu da PT (a
Isabel arrisca dizer que ninguém em Portugal sairia da PT na altura) e
abandonou o seu mentor, que era um guru para ela; e, já na Odisseias, orgulha-se
de ter estado envolvida em várias inovações dentro da empresa, entre eles o
modelo de negócio no E-commerce.
Por fim, queria destacar o quão fenomenal foi esta visita e o quão
maravilhoso foi conhecer a Isabel! Desde o diálogo absolutamente fantástico que
estabeleci com a Diretora Comercial e de Marketing desta magnífica entidade ao facto de ter
conhecido toda a empresa por dentro, esta foi realmente uma Odisseia que não esquecerei! Um grande
grande obrigado Isabel!
Até uma próxima leitura meus caros!
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