sábado, 19 de novembro de 2016

Odisseias – don´t worry, be happy



Assim que cheguei à Odisseias, deparei-me com uma entrada muito interessante. Na parede à minha direita, estava inscrita a já conhecida frase do poeta Fernando Pessoa: “O Homem é do tamanho do seu sonho”. À minha esquerda, visualizei uma imagem, na qual estava o slogan da corporação: “don´t worry, be happy”. Estes pormenores, aliados à simpatia de quem me recebeu, foram logo indícios da excelente visita que se avizinhava.

Tive a oportunidade fantástica de dialogar com Isabel Luna, Diretora Comercial e de Marketing da Odisseias. A Isabel tem a seu cargo várias áreas: retalho (onde trabalham com entidades como a Fnac ou o Continente), corporate e online. A Isabel é responsável por toda esta gestão, reunindo ainda com clientes e, dado que a entidade tem crescido imenso, também tem que implementar as mudanças que são exigidas à organização, dinamizando as diversas equipas de trabalho. A sua semana começa com reuniões com os diretores, definindo atividades e objetivos, nas quais apresenta projetos e ideias inovadoras que procura pôr em prática. O seu dia a dia é imprevisível, até porque procura estar sempre ao dispor dos clientes, das equipas internas e da administração.

Começámos por falar acerca da Odisseias, uma empresa criada há 11 anos pelos amigos Rui Piçarra e Francisco Costa, e que tem tido um crescimento absolutamente incrível (como explorarei mais adiante), vendendo diariamente cerca de 1000 experiências. Atualmente, a Odisseias é uma sociedade gestora de participações sociais (SGPS) e líder no mercado de experiências em Portugal.

A Odisseias tem o seu negócio estruturado em três canais de vendas: E-Commerce, Retalho e Corporate. Nestes, a entidade apresenta experiências, integrados nas plataformas de incentivos ou como presentes a clientes e colaboradores. As próprias experiências podem ser individuais ou em packs. Em termos de Corporate, a Odisseias aproveita o know-how elevado de que dispõe para saber o que vai estar “na moda” e assim oferecer aos clientes empresariais. A título de exemplo, a Odisseias apresenta inclusivamente uma solução em que cria um site igual ao seu (poderão consultá-lo em http://corporate.odisseias.com/) mas com a imagem da empresa-cliente, sendo que os produtos, em vez de aparecerem com valor monetário, aparecem com pontos. Assim, os funcionários sentem-se incentivados a alcançar determinada pontuação de forma a usufruir de determinado brinde/gratificação.

A Odisseias destaca-se das restantes firmas porque apresenta uma rede de parceiros elevada e porque possui uma base de dados de clientes com muita qualidade. Neste setor é sempre difícil definir o que é um bom preço. No entanto, a Isabel é muito pragmática: “O bom preço é aquele que o cliente está disposto a pagar.” Para além disso, nesta corporação, apelam a que a qualidade demonstrada pelos parceiros aos clientes seja proporcional à demonstrada pelos parceiros à Odisseias. Daí existir o departamento do “Cliente Mistério”, que avalia os parceiros e daí haver questionários feitos especificamente para este fim. Afinal, na Odisseias acredita-se que a excelência dos produtos depende da excelência dos parceiros. Todos estes fatores proporcionam uma taxa elevadíssima de retenção de clientela e de satisfação (95%).

Relativamente a prémios alcançados, a Odisseias tem somado vários desde 2011 (melhor empresa para trabalhar ao longo de 3 anos consecutivos, teve o seu pack experiência nomeado produto do ano, entre outras distinções). O segredo do sucesso, segundo a Isabel, é o trabalho que é desenvolvido por cada um e o facto dos fundadores procurarem um crescimento sustentado. “São pessoas muito éticas e isso possibilita uma relação duradoura e de confiança com os parceiros, uma vez que não há nada escondido. São mesmo muito transparentes!” 

É indubitável afirmar que esta forma de estar nos negócios tem trazido resultados. Quando a Isabel entrou na companhia, havia 5 pessoas. Hoje são 86 e a previsão é atingir 16M de euros no final de 2016. Este crescimento exponencial ocorreu sobretudo nos mercados do retalho, E-Commerce, nas categorias de restauração, hotelaria e spa Aliás, no retalho possuem mais de 70% de quota de mercado e no online são também líderes. No entanto, assinala a Isabel, é mais complicado ser líder, porque quando se é líder, a empresa tem que “abrir o caminho” e desbravar horizontes. 

De seguida, pedi à Isabel que me traçasse o perfil tipo de um colaborador da Odisseias. A Isabel descreveu-me um indivíduo descontraído mas responsável, jovem, que apresente muita disponibilidade para trabalhar e que valoriza o espírito de equipa, sempre focado em fazer algo diferente e em crescer enquanto profissional.

Aliás e, uma vez que realcei o colaborador tipo desta instituição, parece-me lógico explanar agora a valorização dada aos trabalhadores nesta organização. Os fundadores, recentemente, proporcionaram a todos os colaboradores da Odisseias uma incrível incursão. Viajaram até Marrocos (Marraquexe, para ser mais específico) durante 2 semanas, numa aventura que contribuiu em muito para o team building. De realçar dois aspetos: o primeiro é o facto dos cerca de 20 colaboradores terem ido todos a esta aventura (sem qualquer exceção, aliás, chegaram mesmo a contratar pessoas temporariamente para ficarem nas lojas neste espaço de 15 dias); o segundo é o caráter simbólico desta viagem, uma vez que foi em Marrocos, em 2005, numa viagem dos 2 fundadores, que a ideia da Odisseias surgiu! Para além desta viagem, há ainda outros aspetos na corporação que mostra que esta valoriza os trabalhadores: prémios de desempenho (todos os trimestres é eleita uma “equipa do trimestre”); ao longo do ano vão à praia, vão jogar futebol, existe um Kick off anual, entre inúmeras outras atividades; e tencionam ainda implementar futuramente uma plataforma de incentivos interna. Todos estes pormenores, relacionados com o reconhecimento do mérito e com o espírito vivido na corporação, fazem a diferença! Acima de tudo, fica na retina que, tanto para trabalharem como para se divertirem, nesta firma são todos uma família.
 
É de destacar ainda a forma como a responsabilidade social é abordada nesta corporação. Desde o início colaboraram com a Associação Laço e com a Fundação do Gil, estando sempre muito preocupados com quem os rodeia. Para além disso e, mesmo em eventos internos, já houve iniciativas que consistiam em fazer obras, pintar, etc. Tudo isto ganha um novo significado se pensarmos que não existe internamente uma função destacada para a responsabilidade social, ou seja, se esta é posta em prática é porque todo o staff tem essa vontade!

Relativamente às diversas lojas, a Odisseias encontra-se em Oeiras e Lisboa. Quando há picos de vendas, têm quiosques nos centros comerciais. As lojas acabam por servir mais enquanto pick-up points e para atendimento aos clientes. Outro dos aspetos que dá visibilidade à Odisseias é a rede de embaixadores que possuem (constituída por famosos), em que estes usufruem de experiências Odisseias e posteriormente partilham a sua nas redes sociais, contribuindo bastante para o engagement de clientes.

Passando agora a analisar o percurso académico da Isabel, ela licenciou-se no ISCEM, em Comunicação Empresarial. Nesta faculdade, a partir do 2º ano era obrigatório fazer estágios e a Isabel não se fez rogada, começando por uma aventura na Vista Alegre e experienciando, mais tarde, a multinacional Portugal Telecom (PT). Quanto ao estágio na PT, teve como primeira tarefa ler todo o clipping da firma, selecionando o que era estritamente necessário, para depois digitalizar o que fosse relevante. Desta tarefa, uma bonita história viria a surgir: ao ler o clipping, a Isabel reparou em diversas notícias sobre responsabilidade social. Por outro lado, na faculdade, tinha uma cadeira que estava relacionada com esta vertente. Assim, conjugou estes dois aspetos e apresentou uma ideia ao responsável de estágio, ideia essa que mais tarde se converteria num livro, onde a Isabel pôde, orgulhosamente, deixar o seu nome!

Dentro da PT, teve a sorte de trabalhar com o diretor de comunicação, que foi para a Isabel um mentor de valor incalculável! Confessou-me que aprendeu e evoluiu imenso, o que corrobora a ideia vigente no mundo empresarial de que os primeiros chefes são fulcrais para o nosso desenvolvimento. Foi contratada ainda durante o curso e, dos 4 anos que esteve na multinacional portuguesa, destaca o espírito de perfecionismo existente. Recorda ainda o último pedido que teve que realizar: fazer uma festa num transatlântico que parasse no dia do aniversário de uma das marcas do Grupo no porto de Lisboa. Um pedido deveras invulgar e que lhe levou a esforços redobrados para que tudo corresse bem, mas que ilustra perfeitamente a capacidade de fazer acontecer que é fulcral possuir neste tipo de organizações. 

Confidenciou-me que, na altura, não foi fácil conciliar a faculdade com o emprego, mas com muito esforço e vontade tudo se tornou possível. 

Ao fim dos 2 anos de estágio na PT e de outros 2 a trabalhar na mesma instituição, rumou à PSO Comunicação Estratégica, onde foi durante 1 ano Gestora de Projeto. No final desses 12 meses, ingressaria na Odisseias (em agosto de 2008), onde atualmente labora.

No início, as diferenças foram grandes, uma vez que ainda trazia muitas recordações da gigante PT. Quando entrou na Odisseias, deparou-se com uma realidade totalmente diferente: uma corporação que empregava 5 pessoas e que crescia bastante à base de estagiários (as atuais diretoras de logística e de corporate, por exemplo, foram estagiárias). Para além disso, recorda com nostalgia o facto de imprimirem os vouchers nas impressoras (algo impensável nos dias que correm) e até de, por vezes, o papel da impressora acabar. “Na PT nunca acabava o papel! Havia alguém que garantia sempre todos esses pequenos pormenores!” disse a Isabel, no meio de uma risada contagiante.

Atualmente, o paradigma já mudou mas, no entanto, não deixam de continuar a trabalhar com estagiários curriculares e estagiários profissionais (em áreas como o turismo, gestão e comunicação e com faculdades com as quais os RH têm parcerias). Nos estágios curriculares, a firma é bastante flexível em termos de horários, sendo atividades onde é dada responsabilidade aos jovens em questão. Para além disso, na área de logística, têm atualmente aberto um desafio que poderá levar a uma possível tese, caso a oportunidade seja bem agarrada pelo(a) jovem. Resta-me referir que a Odisseias procura, sobretudo, pessoas com algum know-how nas áreas supracitadas.

Isabel Luna prosseguiu dizendo que considera a Odisseias como “o maior mestrado que poderia ter tido na vida”. Demonstra orgulho por ter feito parte de todo o crescimento supracitado e por ter tido um papel crucial no mesmo. “Fico muito feliz por vir todos os dias para a Odisseias e por poder ver com os meus próprios olhos este crescimento a acontecer. O sucesso da Odisseias acaba por ser o meu sucesso!”, disse a Isabel, visivelmente radiante.

Com todo este percurso impressionante, indaguei-a acerca da “chave do seu sucesso”. A Isabel realçou os seguintes fatores: sempre teve disponibilidade para aprender com todos, desde as pessoas mais velhas aos estagiários; procurou sempre transmitir as suas ideias e teve a sorte de haver pessoas dispostas a ouvi-las; arriscou e nunca teve medo de errar ou de perguntar o que quer que fosse; e teve um grande mentor. Destacou ainda o facto de vir morar sozinha para um país diferente desde muito cedo (a Isabel é de naturalidade espanhola), o que a fez ganhar valências preponderantes para a sua vida profissional.

A Isabel apresenta uma filosofia de vida muito interessante: considera que cada pessoa chega aonde quer, caso lute por isso, seja numa empresa como a PT ou como a Odisseias. Dando o seu próprio exemplo, quando estava na PT, só tinha que fazer o clipping, mas fez muito mais que isso, e acabou por ter muito impacto (afinal, a pergunta não é quantos de nós gostaríamos de inscrever o nosso nome num livro tal como a Isabel o fez mas sim quantos de nós realmente fazemos algo para que isso aconteça?). A Isabel disse mesmo que nós temos o impacto que quisermos causar e que não é dizer “A mim não me pediram para fazer isso!”, mas sim ser empreendedores dentro da própria empresa, mostrando sempre iniciativa e proatividade.

Isabel Luna considera ainda que, apesar de estudarmos uma área, não nos devemos agarrar única e exclusivamente a essa área. Temos que começar o nosso percurso no mercado, de forma a ir ganhando capacidades que só o “calo do trabalho” nos oferece e, ao longo deste percurso, devemos procurar aplicá-las sempre que possível (sem ser necessariamente na área de formação). Novamente recorrendo à sua própria experiência, recorda que a tese final de curso foi sobre Sustentabilidade Empresarial, apesar de se encontrar num curso de comunicação. 

Por último, questionei-a acerca dos momentos mais complicados que teve de ultrapassar na sua carreira. Isabel Luna destacou dois: quando saiu da PT (a Isabel arrisca dizer que ninguém em Portugal sairia da PT na altura) e abandonou o seu mentor, que era um guru para ela; e, já na Odisseias, orgulha-se de ter estado envolvida em várias inovações dentro da empresa, entre eles o modelo de negócio no E-commerce.
 
Por fim, queria destacar o quão fenomenal foi esta visita e o quão maravilhoso foi conhecer a Isabel! Desde o diálogo absolutamente fantástico que estabeleci com a Diretora Comercial e de Marketing desta magnífica entidade ao facto de ter conhecido toda a empresa por dentro, esta foi realmente uma Odisseia que não esquecerei! Um grande grande obrigado Isabel!

Até uma próxima leitura meus caros!    

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